quinta-feira, dezembro 11

A apanha da azeitona

Começam ao romper do dia. A geada cobre tudo. Os que têm mais força varejam as oliveiras, outros estendem as lonas, os que podem menos arrepanham nelas as azeitonas à mão-cheia, ou uma a uma, rebuscando as que caem fora da lona por entre as pedras de um solo que é mais pedra que húmus.

Novos que os ajudem não há, mas a força atávica manda colher. Sem atentar no frio, no desconforto, esquecendo as dores que são como facadas, o reumatismo que tolhe braços e pernas. A maioria anda pelos setenta. São muitos os de oitenta, o Benjamim fez oitenta e seis, a Laurentina oitenta e sete.

Quando a árvore é alta encostam-lhe uma escada e sobem por ela, esquecidos da idade e do perigo, os dedos trémulos a agarrar esta azeitona, e aquela, a do outro galho. Sentidos por ter de deixar as que ficam longe demais.

Por volta do meio-dia acendem uma fogueira e sentam-se a comer o farnel. Aquecendo uma mão, depois a outra. Sem falas, nem perda de tempo, que por volta das cinco escurece.