sábado, junho 6

A Aspirina

É como num teatro. Sorridente, vem a acenar com uma casca de árvore:

- Ora diga-me lá o que é isto.

- É uma casca de árvore.

- Muito bem. Mas de qual? De que árvore é que será esta casca?

Não se lhe leva a mal o modo enfático, nem a cansativa repetição do "Sou autodidacta, mas posso pedir meças a muito doutor que anda por ai!"

Foi camionista em Moçambique, depois empresário, salvou-se a tempo e vive dos rendimentos.

Entrega-me a casca:

- Pegue-lhe. Estou a ver que não sabe. Nem o que é, nem para o que serve. E estudou! Olhe que eu posso ser um autodidacta, mas peço meças a muito doutor! Então?

- De árvores entendo pouco.

- Pois isto é casca de salgueiro. Com esta casca já os gregos da antiguidade faziam chá para as dores de cabeça! Foi daqui, tome nota, foi daqui que saiu a Aspirina! Mas quem inventou a Aspirina?

- Procurando no Google…

- Google coisa nenhuma! A Aspirina foi descoberta em 1897 por um químico alemão, Felix Hoffmann! E eu tive a honra de conhecer o neto desse senhor. Tive a honra de o ouvir contar como o avô…


Ai que lá vem a muito repetida história! Salva-me a carrinha dos CTT. O jovial senhor Afonso abre a janela, diz que traz um registo e é preciso assinar.