terça-feira, janeiro 26

O tio de Roma

Bom teatro é o da vida, que o do palco fica sempre aquém.

Voltando ao dottore Lattarullo, escreve Norman Lewis: "Graças ao seu ar aristocrático e à capacidade de imitar à perfeição o sotaque romano, de vez em quando ganhava uns tostões desempenhando o papel de 'O tio de Roma' num funeral".

Mesmo que tenha vivido em extrema pobreza, o napolitano pode estar certo de que será enterrado num luxuoso caixão e que tudo será empreendido para homenageá-lo, elevando assim o prestígio da família.

O tio de Roma faz parte dessa comédia. De casaca e condecorações na lapela, chega à morada do defunto num bom carro com matrícula romana. Pesaroso, baixando os olhos, dá a entender que é longa a viagem desde a capital. Recebe os pêsames, fala vagamente do defunto, das recordações comuns num longínquo passado e da tragédia que a vida é. Acompanha depois o ataúde e no cemitério desaparece sem ninguém dar conta."


Ignoro se em Nápoles o uso permanece, mas se assim for vai-se lá com mais proveito a um enterro do que ao teatro.