domingo, fevereiro 20

Em defesa do Dr. Armando Vara

Por vezes torna-se difícil compreender a agitação em redor de acontecimentos comezinhos, mas certo é que ela espelha fielmente a mesquinhice e a inveja das classes baixas.
O Dr. Armando Vara, que recordo jovem funcionário da Caixa em Mogadouro, conseguiu, graças ao bafejo do Destino, mas sobretudo devido às suas extraordinárias qualidades, fazer na sociedade e na política uma sobejamente conhecida e meteórica carreira.
Secretário de Estado, por duas vezes ministro, pilar do Partido Socialista, íntimo do primeiro-ministro, de poderosos banqueiros, poderosos empreiteiros, poderosos sucateiros, e mais  gente da alta, raros se poderão orgulhar de igual CV.
Semelhante proeminência forçosamente enfurece os fracos, os incapazes, e assim se soube ontem que, com urgência de tomar um avião, o Dr. Armando Vara foi a um centro de saúde em busca de um atestado médico e, ao que dizem, não esperou vez, o que a televisão e os jornais publicitaram com desmedido interesse.
Claro que vivemos em democracia, mas não se deve perder de vista a realidade e, sobretudo, o facto apontado por Orwel, de que todos os homens são iguais, mas uns são mais iguais do que outros. Um carpinteiro, um lojista, um reformado, também são gente,  têm direitos, mas são escassas as suas vivências, funcionam em planos modestos, as humildes pressas que os afligem facilmente sofrem espera.
Um Dr. Vara, com o seu poder, as suas ligações e amizades, a sua posição na hierarquia, não deveria ter de se dirigir a um centro de saúde em busca de um prosaico atestado. Que o tenha feito e, por urgência, tenha passado à frente de um ou outro borra-botas, demonstra apenas o seu respeito pelas instituições e pela igualdade pregada há séculos pelo Socialismo.
Se estivessem no seu lugar e possuíssem a sua força, os que se queixaram de ter perdido a vez fariam como ele poderia ter feito: mandavam uma secretária ao centro ou intimavam a médica para que lhes fosse passar o atestado a casa. Não o fez, e isso o honra.
Aflige constatar como o povinho amplia niquices e os demagógicos media se prestam à manipulação dos factos. Tivesse este país muitos homens como o Dr. Armando Vara não estaríamos como estamos.