sábado, julho 16

Cayenne


 
O dinheiro não é tudo, o sentido das proporções não garante boa aparência, comedimento talvez sirva para alguma coisa no outro mundo, que não neste.
Vamos ao caso. No porte são gente de estatura mediana do antigamente, ele e ela à volta do metro e sessenta, ambos pouco abonados de carne, em anos devem estar perto da velhice.
O calor aperta, vestem conforme e à moderna, calças de muitos bolsos, fechos e atilhos, daquelas que deixam à mostra a barriga da perna. Na cabeça bonés de baseball.
Até aqui nada de invulgar, só pitoresco.
Quando deixo a esplanada passam por mim. Entro no carro, ligo o motor, vejo-os desaparecer literalmente num Cayenne que, acaso ou propósito, é da mesma cor bege deslavado da roupa que usam.
Olho no retrovisor e, para meu susto, o monstro dá a impressão de vir vazio. Abrando, ultrapassa-me, a custo distingo nele o cocuruto de dois bonés e dois narizes empinados para que os olhos possam seguir a estrada.