quinta-feira, junho 21

A fé

Veio de um pueblo de donde via a Peña Trevinca na Sierra de la Cabrera, mais de dois mil metros, muita altura. Disso tem saudades, mas do resto… Encolhe os ombros, dez réis de gente, alegre, despachada, ri às gargalhadas quando conta como veio parar aTrás-os-Montes e lhe deu a ideia que tinha chegado a um paraíso, tudo grande, melhor, florido, mais bonito.
Arranjou homem, pariu filhos, três ao todo, diz que a vida tem horas boas e horas más, e sem queixas aceita o destino.
Em Janeiro, quando soube o irmão mais velho às portas da morte, entrou na igreja e pediu a Nossa Senhora que o salvasse, ou pelo menos lhe aliviasse o grande sofrimento. Força tinha pouca, mas jurava, prometia, iria a pé ao Santuário.
Agora estou eu, crente ou descrente conforme as horas, preso à expressão desta mulher em corpo de criança, uns olhos que brilham de fé, de entusiasmo, e me conta da romagem, da canseira, do espanto de chegar a Fátima e sentir-se leve como uma pena, tomada de uma alegria luminosa, desconhecida.
- Nem quando me nasceram os niños! Agradeci de joelhos! Olhe que não vou esquecer. Nunca! E enquanto puder hei-de lá ir.
Suspendo a pergunta, que me parece descabida, mas ela lê os meus olhos e responde: - Está melhor, está cada vez melhor. Os médicos dizem que tem cura.
Despeço-me maravilhado. Vi a alegria e o arrebatamento da fé. Da fé pura, verdadeira, inocente, a fé que eu gostaria de ter.