quarta-feira, dezembro 19

Nove da manhã

Dizem que esteve. Parece que o viram descer a calçada. Alguns, aos berros da muita razão, juram que ainda anteontem passou pelo café, mas não bebeu nada. Comprou cigarros, uma raspadinha.
-Isso foi a semana passada, meu homem, diz o senhor Zé Maria, que o conhece desde… - levanta a mão à altura de metro e pico. Usa expressões de antigamente e diz que se houvesse parceiro ia num dominó, mas ninguém lhe responde.
A Zilda tem mau prenúncio. Duas vezes sonhou com ele todo vestido de preto, a olhar de lado, uma vela na mão, o mesmo sonho que teve quando o Pintinhas caiu do andaime.
- Sabe-se alguma coisa? – pergunta o Arnaldo, baixando o vidro do Audi.
As cabeças acenam que não e abrem alas para que a D. Zé passe, certinha às nove e um quarto.
- Queira Deus não seja desgraça.
No outro lado da rua vêem a Alice abrir a carrinha, pegar mais novo pela gola, empurrar o outro para o banco de trás.
- Se calhar vai à Polícia.
- Foi ontem.
- Não adianta.
D. Zé olha o espelho, ajeita o cabelo, acena para a segunda bica.