quarta-feira, dezembro 4

Música enlatada

Bem sei que venho de um tempo há muito passado. Como pertence, nos teus olhos leio a estranheza de que ainda vá pelo meu pé, e pareça não desnortear. Mas desnorteio e, se to digo, sei que não compreenderás: a juventude mete-me medo.
As dezenas de milhar que saltam num festival, se agitam em danças de que só os Zulus conhecem a graça, que por única expressão dispensam a palavra e usam o grito, essa juventude assusta-me. Mostra o espírito do rebanho, sente-se bem quando perde a individualidade, é em grupo que prefere divertir-se, são sempre do ídolo as suas canções.
Acalma. Não vou recordar-te as paradas dos soldados da SS - provavelmente desconheces - as da Coreia do Norte, as de que todos os ditadores precisam, menos para mostrar quem manda, do que pelo gozo de ver como o rebanho é dócil.
Negas, irritas-te. Os outros de certeza, mas tu ficas fora do rebanho.
Assim será, mas olha, já nem de pastor precisas: para que saltes basta um DJ e música enlatada.