terça-feira, março 14

Outras opiniões

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José Manuel Fernandes, ontem no Observador/Macroscópio:


“Já o New York Times fez uma reportagem em que ouve holandeses de origem muçulmana, alguns deles ocupando lugares importantes na sociedade. Em With Coming Election, the Netherlands Considers a New Relationship to Muslims procura-se perceber o ambiente que rodeia esta eleição que, como se escreve a abrir, “coming ahead of others in France, Germany and possibly Italy, will be the first test of Europe’s threshold for tolerance as populist parties rise by attacking the European Union and immigration, making nationalistic calls to preserve distinct local cultures.”

Mas atenção: não nos fiquemos apenas pelas reportagens jornalísticas. Se quisermos compreender um pouco melhor a sociedade holandesa, como os seus lados luminosos e os seus lados sombrios, é indispensável ler José Rentes de Carvalho, o escritor português que vive no país das tulipas há seis décadas. Em A Ira de Deus sobre a Europa ele conta-nos como viu a Holanda ir mudando e como ele próprio vive muitas das inquietações dos eleitores que, agora, são capazes de ir votar nos partidos anti-sistema. Obra polémica, perturbadora mas sobretudo muito sincera, nela se escreve, logo no prefácio, que “... o hedonismo, a ausência de ideais, uma mansidão que não distingue muito da cobardia, aqui e ali um tolo sentimento de superioridade, de «valores» e «civilização», são outros tantos factores da nossa provável derrota. O comportamento «bonzinho» de não nos defendermos de quem nos ataca, de respeitar quem não nos respeita, de insistirmos em estender a mão a quem nos despreza, por certo encontra alguma justificação na doutrina cristã, mas é atitude contraproducente numa situação de conflito, sobretudo quando a parte contrária aplica a estratégia bélica de Clausewitz, enquanto a nossa opta pelo adiamento e dá prioridade aos jogos de computador, às amizades e aos likes do Facebook.”